terça-feira, janeiro 25, 2005
Pensar política
O vazio a que os partidos políticos nos remeteram, de alguns anos a esta parte, no que respeita à apresentação de medidas concretas para resolução dos nossos problemas, tornou-se ao mesmo tempo assustador e confrangedor. Claro que parte deste vazio é propositado e resulta de uma gestão das expectativas e da política que é necessário fazer, nomeadamente quando se sabe que grande parte das críticas feitas pelos partidos que se encontram na oposição é intelectualmente desonesta. Não importa explicar como fariam, importa antes criticar para desvalorizar. Explicar como fariam, pode trazer consequências futuras quando se é poder e se constata que se tem de fazer o que antes se tinha criticado. Alguns dirão que tudo isto é próprio da política. Eu diria que tudo isto desacredita os políticos e leva-nos ao outro lado da questão, que é a de saber se as alternativas não são apresentadas só por uma questão de conveniência política, ou por outro lado, porque os partidos e os políticos se movimentam apenas numa lógica de alternância no poder, não importando para isso esclarecer os eleitores. Mais valia que apresentassem programas eleitorais credíveis e exequíveis, que sejam resultado de estudos produzidos que levem à adopção das medidas mais eficientes. Sem esta forma de estar na política não há clima de confiança que resista.
Falar de partidos políticos e de política hoje em dia, é substancialmente diferente do que era no passado. Assiste-se hoje a uma profissionalização desta actividade, na medida em que esta é apresentada como uma hipótese de carreira apetecível para alguns, que há falta de carreiras profissionais no sector privado ou público vêem aqui uma oportunidade. Até aqui nada de mal, embora seja difícil de compreender que quem nunca tenha desenvolvido uma actividade na vida civil possa estar bem preparado para servir a vida pública?! Alguns dirão que esta questão é discutível, mas na verdade ela é a prova de que existe um conjunto de valores na nossa sociedade que estão invertidos. Como pode alguém que depende da política e das nomeações para viver, tomar decisões em nome de todos e a bem de todos, mesmo que isso lhe custe a carreira ou o lugar?! Penso que foi Max Webber que disse que a política não é para quem quer, é para quem pode. Ora aqui está algo que mudou com o tempo. Salvo as devidas excepções, estar na política hoje em dia, é antes lugar para quem não tem espinha dorsal, vive em função dos ventos e das marés, tem mais habilidade para fazer as alianças certas e não tem escrúpulos nem olha a meios para atingir fins.
Esta análise, que puderá ser exagerada, reflecte aquilo que uma grande parte da opinião pública pensa hoje em dia dos políticos, e ajuda também a explicar o porquê de muitos considerados válidos e competentes continuarem afastados da vida pública.
O momento que a nossa vida política atravessa, e os problemas estruturais que o país tem, são fruto do trabalho que os governos que tivemos não souberam fazer, por falta de capacidade ou porque a nossa sociedade civil não soube unir-se em torno do que é importante, deixando-se manipular por interesses corporativos ou por pura falta de visão. Portugal e os portugueses mereciam melhor.
Tiago Torégão
Economista
Jornal do Algarve 30.12.2004